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Foto do escritorLorenna montenegro

[Festivais e Mostras] crítica: O Sabor da Vida

Atualizado: 15 de abr.

2023

França

Direção: Ahn Hung Tran


Comida é vida. Não à toa, os Titãs cantam que "a gente quer comer e quer fazer amor; a gente quer prazer para aliviar a dor". O amor que uniu um homem e uma mulher foi pelo ato de cozinhar. Um filme tão reflexivo quanto enérgico é o que dá conta de transfigurar essa relação de forma tão sensível, equilibrada e surpreendente, como os melhores pratos são.



The Pot-au-Feu ou na tradução (horrorosa) para o Português, O Sabor da Vida - lembrando que tem um filme também sobre culinária e afeto da Naomi Kawase com o mesmo título - é, antes de tudo, uma história de amor. Um romance cinematográfico daqueles, de emocionar e fazer o coração bater mais forte perante tamanha veracidade dos sentimentos que unem o casal que alimenta e se espalha por todos que os cercam, na forma de deliciosas criações culinárias. A química perfeita entre os ex Juliette Binoche e Benôit Magimel é um dos grandes trunfos do diretor Tran Ahn Hung. O cineasta vietnamita, de O Cheiro da Papaya Doce, sabe bem formular um cinema dos sentidos e aqui, nessa obra co-produzida pela França, trata da ancestralidade e celebridade da culinária francesa para significar as diferenças entre classes sociais, a cultura dos gourmet e os sabores da vida.


Magimel é Dodin Bouffant, um chef gourmet que vive em comunhão com os aromas e sabores e sua bela casa de campo no vale do Loire. Com ele vive Eugenie - a personagem de Binoche - sua companheira de cama e de cozinha já a duas décadas. Antes de serem marido e mulher, a dupla forma um duo profissional que maravilha suas empregadas, seus vizinhos, amigos gourmet e visitantes. Um ator e especialmente uma atriz em estado de graça são o que torna esse filme delicioso, somando-se a isso a perícia artística do cineasta vietnamita, que ganhou a palma de melhor direção em Cannes e o prêmio de Mise en Scène por esse trabalho digno de uma estrela Michelin.


A câmera de Jonathan Ricquebourg, orquestrada por Tran Ahn Hung, passeia pelas mesas da cozinha e as mesas da sala de jantar, pelas panelas e caçarolas, as travessas elegantemente arrumadas, acompanhando quase que numa coreografia de dança todo o ritual de preparação, arrumação e degustação dos pratos.


Outra atuação de grande destaque é a da jovem Galatea Bellugi, como a jovem aprendiz Violette, que, encorajada pelo olhar atento de Eugenie, quer se tornar uma grande cozinheira. Mas a tônica da sedução do paladar e do encantamento visual desse filme reside no vínculo entre o chef gourmet (baseado no personagem criado por Marvel Rouff n'a novela La Vie et la passion de Dodin-Bouffant, gourmet - The Passionate Epicure) e sua cozinheira, que se recusa a casar com ele.


Mais do luminosa do que já é o habitual para si, a grande atriz francesa de Chocolate (outro filme gastronômico!) que também está mais precisa na atuação do que jamais estivera, se é que isso é possível, como uma mulher do século 19 que sabe que é bela e que tem um talento imenso mas quer ser adorada pelo que faz na cozinha. E o filme caminha para o seu desfecho, agridoce e não radiante como o da obra prima dinamarquesa A Festa de Babete (também sobre comida!), após o momento que se repete na memória de Dodin e que fica na nossa retina, quando pela primeira vez ele fez uma refeição para a sua amada cozinheira. E como ela está presente em cada ingrediente, pirada secreta e afeto que ele coloca na preparação do seu prato mais reconhecido, um típico ensopado francês: o pot-au-feu.


Assistir a Paixão de Dodin Bouffant é a certeza de sair da sala de cinema com o estômago roncando, o coração sorrindo e a alma saciada por tanta beleza.



Avaliação: ❤️❤️❤️❤️❤️


*o coração cheio equivale a 2 e o coração pequeno equivale a 1. A maior pontuação são 5 corações cheios.


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