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Foto do escritorLorenna montenegro

[Festivais e Mostras] crítica: Firebrand

Atualizado: 27 de out. de 2023

2023

EUA/ING

Direção: Karim Aïnouz


Fogo brando, que vai queimando devagar até tomar conta e agitar uma transformação, a fibra de mulheres de casas reais é notória. De Margarida de Anjour, passando por Catarina de Médici, Elizabeth I, Vitória I e Catarina A Grande, são rainhas ou consortes que mudaram a história - e a última esposa de Henrique VIII, Katherine Parr também merece seu lugar ao lado dessas figuras. Ela foi a responsável por por fim no reinado do monarca tirano e que matou ou puniu todas as suas esposas anteriores, além de garantir que os filhos desse chegassem ao trono.



Alicia Vikander é a personagem que inspira o título do filme, esse por sua vez uma adaptação do livro Queen's Gambit de Elizabeth Fremantle, a cargo das roteiristas gêmeas Jessica e Henrietta Ashworth. E um cineasta brasileiro, com sensibilidade aflorada para narrar histórias de mulheres silenciadas, foi o escolhido para encabeçar o projeto da Amazon.


O estilo de Karim fica muito evidente já no plano de abertura, um rito de vestir e se preparar para a corte encenado pela rainha e suas empregadas. A rainha Kit vai se mostrando como uma figura rigorosa na criação dos enteados, tolerante com as investidas sexuais do marido e que realmente se coloca aos pés da fogueira quando resolve se encontrar com uma amiga de infância e agitadora religiosa.


E há de se observar uma evolução na maneira em que o diretor fala de opressão feminina, com um subtexto bem melhor maturado além de um trabalho de concepção de personagens - mérito compartilhado com as roteiristas de Firebrand - bem melhor do que o de A Vida Invisível, onde a covardia em se apropriar do melodrama para narrar a história de sofrimento de duas irmãs resulta num filme desequilibrado entre a perversidade e a permissividade, que romantiza a tragédia daquelas mulheres.


A questão aqui é que Firebrand se enfraquece pelo seu foco narrativo em Kit Parr, já que a atriz sueca Alicia Vikander não consegue corresponder e entrega uma performance pálida, pouco potente. Em contraste, ela é engolida pelo elenco masculino, formado por Sam Riley e Jude Law, esse último essencialmente fazendo um trabalho grandioso como o grotesco e violento Henrique VIII. Na conferência de imprensa de Firebrand em Cannes, o ator revelou que usava um perfume fortíssimo, uma mistura de "sangue, suor e fezes" para que o elenco e a equipe técnica realmente sentissem asco devido a sua presença.


Firebrand ainda assim não configura uma experiência cinematográfica apenas razoável. É promissora a carreira internacional de Karim, que consegue imprimir um ritmo dramático intenso ao filme e manter o risco de assassinato em cada canto escondido do úmido, sujo e escuro castelo real, sempre presente. Louvores ainda a fotografia da genial Hélène Louvart que mantém o clima de suntuosidade decadente, fedor e tempo nublado numa constância durante o filme. O impacto da cena de encerramento do filme, com a rainha livre da tirania e possibilitando que os filhos do rei - em especial Elizabeth I - pudessem herdar o trono é majestosa. Ela anda imponente (e aliviada) pelos corredores ao som de Down by the Water, o libelo de rebeldia das ofelias cantado por PJ Harvey.



Avaliação: ❤️❤️❤️❣️


*o coração cheio equivale a 2 e o coração pequeno equivale a 1. A maior pontuação são 5 corações cheios.





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