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Foto do escritorLorenna montenegro

[Festivais e Mostras] crítica: O Mal Não Existe

Atualizado: 28 de out. de 2023

2023

JPN

Direção: Ryusuke Hamaguchi


Um conto moral de advertência, o novo filme do ganhador do Oscar Ryusuke Hamaguchi é talvez uma experiência que não irá agradar a todos, já que exige mais de nós enquanto público no aspecto observacional.



Na comunidade de Mizubiki, seis mil pessoas vivem em paz e harmonia até que uma ambiciosa empresa chega com planos de construir um "glamping" (acampamento glamouroso para influencers) no local, incluindo a instalação de uma fossa sanitária no leito do rio. O que decorre dessa premissa é o conflito entre as partes, tendo o faz tudo Takumi e a pequena Hana, sua filha, no olho do furacão.


Uma região muito seca e onde venta muito, Mizubiki já sofreu as consequências de vários incêndios florestais, tendo o chefe da comunidade, Sr. Suruga, uma visão pouco otimista em relação ao futuro. Afinal, como evitar que os usuários do glamping acendam fogueiras ou churrasqueiras na área florestal? E como evitar a poluição do rio?


O grande vencedor do prêmio do júri no festival de Veneza, O Mal Não Existe vem com respostas que não são simples e nem fáceis. O conflito moral se estratifica e complexifica a partir do momento em que Hamaguchi opta também pelo ponto de vista dos dois agentes de talento que estiveram incumbidos de apresentar o projeto do glamping à comunidade. Mayuzumi e Takahata logo se deparam eles próprios com questões sobre o projeto e se veem ao lado dos moradores, a partir da convivência com eles - em especial com o taciturno Takumi.


Gênio na costura dramática e na composição dos diálogos, Hamaguchi nos traz comentários sociais preciosos, como no diálogo entre os relações públicas no carro, a caminho de Mizubiki, onde Mayuzumi conversa com Takahata sobre relacionamentos e planos pra o futuro - ele diz que quer casar para ter companhia - e ela sai com essa pérola: “tá se sentindo sozinho? Arruma um pet”.


O teto da floresta, com suas folhas amalgamadas que escondem o mundo exterior, são o reflexo da proteção que aquela comunidade formou no seu entorno. Takumi faz e refaz suas atividades rotineiras: cortar madeira, encher galões de água do rio e buscar sua filha na escola. Takahata se sente fascinado pela vida simples e frugal do homem, pede para segui-lo e, numa cena hilária, tenta fazer o papel de "lenhador" e paga mico mas num segundo momento, consegue cortar e sente orgulho de si. Mayuzumi se corte e recebe os cuidados do camponês, enquanto comenta que gostaria de conviver mais com eles para tentar mudar a mentalidade do dono da empresa.


Penas de faisão flutuam na água, ossadas de cervo espalhadas pela trilha. A menina Hana está no meio do mato, desaparecida. A morte que cria feridas e também abre caminho para a cura (como em Drive My Car) está ali, na floresta silenciosa. O clímax de O Mal Não Existe é tarkovskiano, remetendo ao O Sacrifício com toda a desesperança e o fogo tomando conta do lugar para purificar.




Avaliação: ❤️❤️❤️❤️❤️


*o coração cheio equivale a 2 e o coração pequeno equivale a 1. A maior pontuação são 5 corações cheios.

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