2023
Brasil
Direção: Nara Normande e Tião
Uma menina pobre e uma menina rica, de classe média burguesa. Elas tem uma pequena diferença de idade, com convívios familiares em situações bem distintas, se encontram num verão na ensolarada praia de Guaxuma, em Maceió, Alagoas. Essa é a premissa do apaixonante retrato da adolescência pré celular, em meados dos anos 90 do século passado, que é Sem Coração.
O representante brasileiro no Festival de Veneza 2023 - na mostra Orizzonti - é uma produção do casal Emilie Lescaux e Kleber Mendonça Filho, dirigida por Nara Normande e Tião, fala de amor, hormônios, sonhos, terrores, amizade e corações partidos em um espaço de algumas semanas.
A turma de Tamara (Maya de Vicq) está aproveitando as férias em passeios de bicicleta, idas à praia e exploração de casas vizinhas ou lugares abandonados. O clima amistoso é cortado pela estranheza quando a menina apelidada de "sem coração" (Eduarda Samara) aparece, seja pescando ou indo entregar os pescados que comercializa junto com o pai pescador, o clima de desejo está no ar...
E o sol a brilhar junto com a vivacidade vibrante típica da adolescência e suas pequenas transgressões típicas da fase mais despreocupada da vida. Então eles invadem a casa de veraneio do vizinho ausente, deitam na cama, se masturbam, bebem e fumam e dão prejuízo. Os pais de Tamara, bem liberais - vividos pela onipresente Maeve Jinkings e Erom Cordeiro - tentam amornar a tensão mas o menino Galego (Alylson Emanuel), por ser pobre e da periferia, fica marcado e é acusado. Emanuel é, inclusive, assim como Eduarda Samara, um dos atores do curta que deu origem ao longa e é um forte candidato a seguir os passos de Jesuíta Barbosa.
Sem Coração foi visto por está crítica numa sessão bastante tumultuada, que demorou 40 minutos para começar por conta de algum problema no DCP do filme - e que já teria sido a segunda exibição com problemas segundo a diretora Nara Normande, visivelmente frustrada durante a apresentação ao público. Sem Coração, o longa, de diferente do curta traz essencialmente o casal lésbico central e ainda o aprofundamento de outros personagens, como o de Ian Boechat - que faz o irmão meio mau caráter de Tamara - e o de Kaique Brito (que de fenômeno do TikTok faz sua estreia como ator), um menino gay que sofre com a mentalidade tacanha dos homens do lugar.
Apaixonada pela menina que tem uma cicatriz próxima do coração, que é devota ao pai viúvo e que cede seu corpo para servir como depósito dos feromônios dos meninos, Tamara sofre. Ela sente as dores dos amigos e o próprio coração partir ao se deparar com o fim do verão e a chegada do momento de ir embora.
O duo de diretores constrói, mesmo que com uma ou outra barriga na narrativa, um conto sobre o primeiro amor que é tecnicamente impecável e que emociona a audiência. E fora que para a GenZ pode ser interessante o impacto de ver jovens da mesma idade vivendo a vida vinte anos atrás, sem serem consumidos pelos celulares.
Avaliação: ❤️❤️❤️❤️❣️
*o coração cheio equivale a 2 e o coração pequeno equivale a 1. A maior pontuação são 5 corações cheios.
Comments