[Festivais e Mostras] Oeste Outra Vez
- Lorenna montenegro
- 17 de ago. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de mar.
Direção: Erico Rassi
GO

Um faroeste feito conceitualmente à moda antiga mas repleto do frescor das novas ideias no roteiro e na direção, que se debruçam sobre o gênero cinematográfico para traçar um estudo sobre as ranhuras e as nefastas marcas que o patriarcado deixa pelo caminho.
Erico Rassi, diretor e roteirista, endereça as questões sobre machismo através dos atritos entre os personagens de Totó (Ângelo Antônio) e Durval (Babu Santana), que amam a mesma mulher, vivida por Tuanny Araújo. O gesto de direção, de roteiro e de montagem que retira essa mulher de quadro ainda no princípio do desenvolvimento da trama é forte pois repele a necessidade de uma disputa corporificada na posse daquela mulher, ao mesmo tempo em que dá o tom do filme: é uma história de homens desterrados, tóxicos, arraigados a uma masculinidade arcaica que os relega a solidão e a brutalidade.
A entrada de Rodger Rogério como Jerominho em Oeste Outra Vez, personagem que passa a dividir o protagonismo com o de Ângelo Antônio, é outra escolha contundente e certeira, já que o velho tocador tem muitos pesares e muita sabedoria para partilhar com o abandonado Totó. Pelo caminho, pela estrada, os destinos desses dois anti heróis se cruzam ainda com o dos matadores Antônio (Daniel Porpino) e Domingos (Adanilo), além do velho viúvo Ermitão (Antônio Pitanga) , todos, homens abatidos pelo desamor, pela violência e pela dificuldade de expor seus sentimentos. O vazio vasto da paisagem rural goiana dá conta da sensação angustiante, melancólica e um tanto patética que as histórias desses homens provocam em quem assiste a esse filme.
Fordiano em sua inspiração imagética, onde o cenário rural, árido, misterioso e melancólico do cerrado, com as raízes profundas e cascas grossas que se assemelham as características aparentes e ocultas dos personagens; o embate entre o bem e o mal, tão característico do faroeste clássico em sua linearidade de campo narrativo, determinado pelo maniqueísmo mas também por certa ambiguidade quando a autoria se integraliza as convenções do gênero. Oeste Outra Vez vai versando sobre paixões violentas que acometem pistoleiros solitários, que preferem morrer do que olhar para o vazio existencial que carregam.
Corroboram na construção densa e acertada do universo de Oeste Outra Vez o fotógrafo André Carvalheira e a diretora de arte Carol Tanajura, no que resulta num filme de beleza plástica mas que não é esvaziada, está servindo dramaticamente na composição e encenação fílmica, assim como o desenho de som de Ricardo Reis, a montagem de Leopoldo Joe Nakata e a trilha (que soa algo próxima ao trabalho de Ry Cooder em Paris, Texas) de Guilherme Garbato, tornando esse filme numa experiência de cinema lacunar e muito única. Ou talvez não: o diretor, roteirista e também montador Rassi, tem como filme anterior Comeback < ainda não assistido por esta crítica > sobre o matador que nunca se aposentada, vivido pelo grande Nelson Xavier. Talvez esteja em curso a definição de uma estética e de um estilo muito peculiar e que engrandece o cinema brasileiro e o cinema goiano - o cinema de Erico Rassi.
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