Direção: Robert Zemeckis

Após o (desnecessário) fracasso na forma da versão live action de Pinóquio para a Disney, um dos cineastas mais criativos, com capacidade de emocionar e de produzir filmes com efeitos especiais que favorecem grandemente o enredo, retorna a boa forma. Para tanto, Robert Zemeckis, o garoto prodígio responsável por De Volta Para O Futuro e Uma Cilada Para Roger Rabbit se reuniu com as estrelas de Forrest Gump, O Contador de Histórias: Tom Hanks e Robin Wright. E De Volta Para o Passado, ele refaz a história de uma casa, de um lugar permeado pelo afeto, resultando num filme que abre espaço para a experimentação estilística e permite que a emoção também faça morada.
Adaptação da HQ de Richard McGuire, “Aqui” interessou Zemeckis pelas ‘histórias invisíveis’ que habitam os espaços cotidianos, ele mesmo morador de uma casa centenária, passando a refletir sobre as vidas que passaram por aquele lugar e que o habitaram, vivendo alegrias, tristezas, lidando com tribulações. “As paredes permanecem, mas as histórias mudam”, completou. Como numa odisseia, “Aqui” remonta as origens de uma casa semi colonial, construída no início do século 20 mas em cujo terreno viveram povos originários norte-americanos e até mesmo dinossauros. A vizinhança, mais especificamente o grandioso casarão em frente, foi habitado pelo nada ilustre filho ilegítimo de um certo Benjamin Franklin.
Aquele lugar acompanha o progresso, a evolução da sociedade norte-americana naquele território e os espectadores podem se entediar com a introdução do filme, desnecessariamente longa e mecânica. Mas o bom é que ela passa e o ritmo melhora quando a primeira família de fato a habitar a casa, aparece (apesar do cgi ser um pouco ostensivo as vezes, provocando distração e uma dificuldade de conexão com os personagens).
Ao passo em que a narrativa transcorre, provoca algum incômodo a falta de um tratamento adequado ou equivalente ao dado as outras famílias/personagens o que é dispensado ao casal indígena e a família afro-americana, talvez uma falha do diretor e do seu co-roteirista, o experiente Eric Roth. Existe ali uma negligência mesmo, em não narrar as histórias de famílias não-brancas com o mesmo peso, ainda que com - talvez - o mesmo tempo de tela das outras que servem para ilustrar a ocupação da casa e do terreno.
A história que interessa na imitação da vida presente em "Aqui" e que conduzirá as transformações da casa, da mobília e da decoração do único cômodo retratado, a sala, é a de Richard (Hanks) e Margaret (Robin Wright), que começa nos anos 60 e vem até os dias de hoje, sendo constantemente atravessada pela de outras famílias que viveram na casa antes e depois deles. Inclusive a própria família de Richard, seus irmãos e seus pais, Al (Paul Bettany, inspirado) e Rose (Kelly Reilly), que se mudam para lá no pós guerra.
Os jovens Richard e Margaret veem seus sonhos sendo esmagados pela falta de dinheiro e se sentem sufocados pelo fato de terem que dividir a mesma casa com Al e Rose - já que os irmãos não demoram a sair de casa. O casamento deles também fica prejudicado pela interferência na criação da filha e na falta de perspectiva, até o dia em que Rose sofre um acidente e fica debilitada. Parece ali a chance de Margaret, sempre quis ter uma casa sua e não morar na mesma casa, junto dos sogros, até a velhice. Eles vão para uma casa de repouso, mas Rose morre e Al volta a morar com eles, passando a ser assistido por Richard. A forma como as mudanças na vida do casal central e a passagem do tempo os impacta são regidas com delicadeza e engenhosidade por Zemeckis, resultando num produto com o padrão clássico hollywoodiano de qualidade, um tanto raro de se assistir agora.
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