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[Salas de Cinema] Conclave

Foto do escritor: Lorenna montenegroLorenna montenegro

Atualizado: 2 de fev.

Direção: Edward Berger



O encontro secreto ou Conclave, evento cercado de mistério que define a escolha de um novo papa para a igreja católica apostólica romana, configura um dos maiores segredos da cúria pontifícia. E o cineasta suíço Edward Berger, curioso para desvendar o mecanismo por trás da eleição papal, viu no filme - uma adaptação do livro de Robert Harris feita pela roteirista Peter Straughan - a oportunidade para descobrir os detalhes. Bom, ele acredita que "Conclave", o filme, chega perto da verdade.


E a verdade é que a escala dramática do filme, muito bem orquestrada em torno do personagem do Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes, sublime) e as maneiras que ele, para bem ou para mal, encontra para navegar entre as intrigas em torno da sucessão do papado, tem um crescendo de suspense, de tensão - e até espaço para momentos de comicidade - que captura completamente a atenção. Méritos do elenco e da equipe do filme, com o diretor de Nada de Novo No Front provando sua capacidade técnica e Straughan, familiarizado que é com tramas de conspiração (ele adaptou O Espião Que Sabia Demais, de John Le Carré), fazem de Conclave um filme saboroso de desfrutar, como um bom thriller deve ser.


Então vamos a trama: o Vaticano está passando por um momento de sede vacante ou seja, o papa morreu e um novo pontífice da igreja e da cristandade precisa ser escolhido por Deus - na verdade, pelos seus representantes na terra: os membros da cúria. Para isso, o cardeal Lawrence, que ocupa o cargo Decano (o cardeal nomeado em antiguidade e portanto, administrador no Vaticano) enquanto atravessa uma crise de fé, terá que presidir o Conclave. Mas há algo de podre no reino espiritual e concreto, já que a morte do papa parece não ter sido acidental e os homens mais perigosos são aqueles que querem se tornar o próximo papa. Apoiado pelo cardeal Bellini (Stanley Tucci, como a voz da consciência) e outros cardeais aliados, além da madre Agnes (Isabella Rossellini, numa participação pequena mas importante para o desenrolar da trama), Lawrence irá empreender uma investigação e consequentemente, eliminar rivais da disputa.


E na ambiguidade do personagem que detém o foco narrativo da história repousa um dos grandes méritos desse filme, já que Lawrence, aparentando ser o mais elevado espiritualmente dos cardeais, não é moralmente tão superior a um Tremblay (John Lithgow, ótimo) ainda que não seja tão conservador como um Adeyemi (Lucian Msamati) mas comete pecados como ambos. Num jogo de xadrez mental e que exige rapidez na tomada de ações, Conclave vai ganhando um ritmo mais opressivo e tenso à medida em que a eleição avança. Ajuda e muito a trilha sonora a cargo do ganhador do Oscar Volker Bertelmann, que constitui a tensão com elegância. Os cardeais estão em clausura durante os dias de eleição e é na calada da noite ou nos largos corredores à luz do dia, protegido pelas colunas romanas, que Lawrence vai mexendo os pauzinhos.


Mas o maior perigo para o futuro da igreja, fazendo com que essa se distancie de uma doutrina mais liberal ou até mesmo progressista, investigando os crimes de abuso sexual cometidos por padres, aceitando o casamento homoafetivo ou protegendo minorias é a escolha do vilanesco Tedesco (Sérgio Castelitto) como papa. E o cardeal Lawrence tem uma disposição ferrenha para aceitar que isso aconteça, inclusive pedido que não votem nele e concentrem votos em Bellini, no que é rechaçado pelo misterioso e angelical Benítez (Carlos Diehz). Essa costura sutil do roteiro, entre as situações que envolvem os ritos da eleição do papado, conta com a importante colaboração do fotógrafo Stéphane Fontaine e do montador, Nick Emerson, que dão o clima e ordenam a disposição das peças do tabuleiro junto com Berger.


Talvez não seja tão surpreendente a conclusão da eleição - até pontuando que o trailer, infelizmente, entrega que há um atentado em certo momento do pleito - e a escolha subsequente, por eliminação, do novo papa, considerando que “a ambição é a traça da santidade” (palavras de Bellini), Lawrence afirma que o homem que irá guiar a igreja do presente precisa rejeitar as certezas, ser cheio de dúvidas pois a existência do mistério é o que motiva a fé. E o escolhido parecer ser justamente aquele que está pronto para lidar com as maquinações, as politicagens e os vícios que envolvem a curia, pois sabe como é estar em meio as certezas do mundo.

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