Direção: Luciano Vidigal

Era uma vez Dé (Big Jaum, talento nato) e seus fiéis escudeiros Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramón Francisco), numa jornada noite e dia repleta de provações e também de alegrias. Dona Almerinda (a estupenda Teca Pereira) é a avó de Dé e está nos estágios finais de alzheimer, praticamente vegetando em cima da cama, da poltrona e da cadeira de rodas. O menino, valente, mora sozinho com ela e não desiste nunca de tentar fazer os dias serem melhores até que a avó resolva partir desse insensato mundo. Até lá, eles, juntos, percorrem a periferia de Chatuba e outras localidades do Rio de Janeiro lutando pelo direito à felicidade.
Os conflitos, reais e inspirados a história de um conhecido do diretor Luciano Vidigal, que optou por um naturalismo muito bem orquestrado entre momentos cômicos e dramáticos, “trazendo um protagonismo negro no lugar do objeto, que são os atores, no lugar do sujeito, eu como diretor. Então, é o preto como protagonista no elenco e também na criação”.
Um Conta Comigo à brasileira, com DNA genuinamente do Vidigal, onde nasceu o Nós no Morro, projeto fundador de arte educação e formação de artistas que ganharam as Telas: estrelada m novelas, filmes e programas de tv desde 1986. Foi em 1990 que Luciano Vidigal se juntou ao grupo e foi crescendo como ator, agora estreando solo na direção de longas com Kasa Branca, após ter codirigido diversos projetos como 5x favela Agora Por nós Mesmos e Cidade de Deus: 10 anos depois.
Os jovens protagonistas tem brilho próprio mas ajuda muito ter no elenco, atores e atrizes tão bons como Babu Santana, Roberta Rodrigues e Guti Fraga. E porque afinal o filme se chama Kasa Branca? É o nome da casa onde Dé e Almerinda vivem de aluguel é pra ajudar a pagar os meses atrasados, além da conta com os gastos com farmácia e outras necessidades, o jovem pede ajuda pro amigo famoso L7nnon - em sua estreia nos cinemas - para levantar uma grana. Aí os três organizam a festa com o show do rapper na ‘Kasa branca’, o que vem a ser o evento que marca o clímax e que é seguido pela despedida de Almerinda, deixando o rito de passagem e de amadurecimento de Dé com um vestígio de dever mais do que cumprido e uma sensação de que ele achou seu rumo na vida.
Vidigal entrega com Kasa Branca uma obra que realmente estabelece uma relação de horizontalidade com o audiovisual feito no Brasil, trazendo diversidade num amostragem da cultura da periferia de uma grande cidade, a potência criativa do cinema preto e a representatividade, somadas a um domínio técnico que ressalta inclusive, a pele preta na fotografia, tanto diuturna quando noturna, com tonalidades douradas ou azuladas, o que acresce em beleza plástica - tornando o filme ainda num experiência de prazer estético e a boa fruição de uma história com enredo envolvente. É torcer para que a carreira nos cinemas brasileiros, pegando o rescaldo da boa onda de Ainda Estou Aqui, reflita a qualidade desse filme.
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