Direção: Pablo Larraín

Medeia. Carmen. Norma. Tosca. Madame Butterfly. La Traviata. La Callas. Maria Anna Cecilia Sofia Kalogerópulos, uma mulher mortal. Extremamente vulnerável e melancólica, a divina Maria Callas, em seu último canto de cisne é objeto do terceiro filme sobre "mulheres trágicas do século 20", do Pablo Larraín. E Angelina Jolie quase desaparece ao optar por não imitar nem mimetizar Callas mas sim, homenageá-la com respeito e abnegação (inclusive, cantando em algumas partes do filme). Pena que o cineasta chileno cria um retrato pálido, ainda que semelhante no tom de ficcionalização biográfica construída numa narrativa psicológica como Jackie e Spencer mas sem inspiração artística e nem razão de ser.
O ano é 1977, a soprano, rainha do Bel Canto, está reclusa em Paris. Desde 1965 não canta uma ópera inteira mas vem ensaiando - mesmo que só para si -, em um teatro, com o auxilio de um pianista. Em quatro partes, a última sendo um epílogo óbvio mas comovente, intitulado Ascensão, Larraín e o roteirista Steven Knight (de Coisas Belas e Sujas) encenam os últimos dias de Maria Callas como uma travessia pelo Rio Estige para o Olimpo - ela jamais mereceria o tártaro -, uma tragédia operística grega, cheia de drama, de sofrimento, de paixão e de música.
A Callas real atuava com a voz. La Jolie, não sendo cantora, muito menos de ópera, deixa seus recursos dramáticos a flor da pele na tentativa de se imantar da aura imortal de Callas. E seu esforço emociona. Ela tem o suporte dos extraordinários Pierfrancesco Favino e Alba Rohrwacher, como os fieis escudeiros Ferruccio e Bruna, que dividem a casa e a rotina com a diva aposentada. A eles se somam ocasionalmente o médico, os fantasmas como Onassis e até um jornalista, Mandrax (o talentoso Kodi McPhee-Smith), que a entrevista para ajudar na escrita da autobiografia.
O filme Maria Callas peca por um ritmo um tanto arrastado como o passar dos dias naquele apartamento luxuoso, escuro e cheio de mofo onde vivem três pessoas e um cachorro. Entre as idas ao teatro para os ensaios, passeios com Mandrax ou com Ferruccio e Bruna pela cidade-luz, a sequência no hoje é transposta com a sequência no ontem, em preto e branco - clichê, onde Ari Onassis é figura constante. Mas também aparece John F. Kennedy, desacompanhado de Jackie, o que poderia ser um cameo de Natalie Portman.
Comments