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[Salas de Cinema] Nosferatu

Foto do escritor: Lorenna montenegroLorenna montenegro

Atualizado: há 2 dias

Direção: Robert Eggers




Em 1922, F. W. Murnau apresentou ao mundo “Uma Sinfonia de Horror”, o filme que definiu o gênero do terror no cinema, além de iniciar em uma nova mídia, a mitologia vampírica. É o filme perfeito, seja pela história, uma 'livre adaptação’ de Henrik Galeen, sem autorização do Drácula de Bram Stoker, a concepção, feita a partir dos preceitos do movimento expressionista alemão, tendo como parte central a caracterização e interpretação de Max Schrek - até envolto no mistério de ser considerado um possível vampiro, devido sua paixão por maquiagem prostética e sangue (?). Na verdade, Schrek jamais foi acusado de ser um morto vivo com caninos afiados, essa é a trama do filme “A Sombra do Vampiro” (2000) com Willem Dafoe.


Então Dafoe, meio que ator-fetiche de Robert Eggers, está no Nosferatu do diretor estadunidense. Mas para o azar do espírito de Murnau, essa é uma adaptação insípida, egotrip com ambientação de época primorosa sem autoria latente. Bem distinta do melancólico e colorido melodrama existencial de Herzog. E anos luz distante de qualquer inspiração do original.


Um esteta do cinema, Eggers nunca pecou por ausência de autenticidade. Mas, o primeiro aspecto decepcionante do seu Nosferatu é q confusão na tésis do filme: Ellen Hutter (Lily Rose-Deep, empenhada) é uma mulher atormentada pela própria sexualidade. A pulsão de vida latente desde a infância despertou, com « la petite mort » do sono eterno o demoníaco Conde Orlok (Bill Skasgard, embaixo da maquiagem prostética); a necessidade que ele tem de se alimentar de Ellen envolve uma pulsão de morte que deve envolver o mundo em trevas, com os ratos trazendo a peste negra e essa se alastrando novamente pelo território europeu.


Essa questão do enredo é compreendida no primeiro ato e parte do segundo, até que fica perceptível como Eggers se atrapalha, com a narrativa expressando a mitologia dos “caminhantes da noite” como possessão demoníaca. A sedução, a languidez e o hedonismo do vampiro foram substituídos pelo corpo de Ellen se contorcendo e seus olhos ficando brancos e opacos, como se ela estivesse possuída.


Enquadramentos engenhosos, como quando a câmera frontal gira por detrás de Rose-Deep na cama e no plano posterior ela está no gramado ou como as sombras da Transilvânia engolem o personagem de Thomas Hutter (Nicolas Hoult), vendo da janela um estranho ritual de sacrifício para exorcizar o demônio castigado com a vida eterna, somente iluminado pelas tochas; até as cenas que apareceram bastante no trailer, mimetizando “Uma Sinfonia de Horror”: as mãos com longas unhas de Orlok cobrindo as casas da cidade alemã do século XIX ou a sombra dele cobrindo Ellen, antecipando sua chegada no quarto onde ela está. O clímax com o sacrifício deminino, muito literal e literário, sem espaço para sutis interjeições é outra fraqueza desse Nosferatu de Robert Eggers. Que ao menos ele seja um êxito comercial nos cinemas nesse período natalino e desperte o interesse pela œuvre de Murnau.






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