Direção: Tim Fehlbaum
Roteiro: Tim Fehlbaum, Moritz Binder e Alex David

Com o conflito na região da Palestina e a chacina empreendida pelo governo de Israel de um lado e as ações terroristas do Hamas de outro, seria esse realmente o momento propício para o cinema hollywoodiano lançar um filme sobre o atentado ocorrido durante as Olimpíadas de Munique em 1974?
Apesar do timing equivocado, da contextualização que, mais uma vez, opta por uma abordagem abertamente sionista - bem mais do que Munique, de Spielberg, que ainda tenta nuançar os personagens dos "terroristas" junto aos espiões do Mossad -, Setembro 5 mantém algum apelo junto ao público politizado por focar nos dilemas éticos do jornalismo informativo (ou sensacionalista), explorando a premissa que coloca a equipe da ABC Sports norte-americana no olho do furacão, sendo o único veículo capaz de noticiar e cobrir ao vivo o atentado envolvendo um grupo de atletas israelenses feitos de reféns pela organização Setembro Negro durante as olimpíadas de verão, entre agosto e setembro de 72 em Munique.
Tendo o roteiro pré selecionado ao Oscar na categoria Roteiro Original, com alguma chance de entrar na lista de cinco indicados, Setembro 5 está centrado em quatro personagens: Roone Arledge, chefão da ABC Sports, os funcionários Marvin Bader (Ben Chaplin, quase irreconhecível), Geoffrey Mason (o versátil John Magaro) e a tradutora Marianne Gebhardt (Leonie Benesch, de A Sala dos Professores). A tensão do thriller é bem construída especialmente por boa parte das cenas ocorrerem dentro dos diminutos, enfumaçados, escurecidos e amontoados espaços da emissora e na sala de controle, onde boa parte da ação acontece nas telinhas e na telona, no que o filme imprime. Os conflitos entre esses personagens, alavancados pela forma como cada um deles enxerga o mundo - e aqui é essencial apontar como, de certa forma, surpreende o fato de que o judeu Bader é o mais sensato entre os pares -, como entendem que o que estão fazendo ali não é mais noticiar uma competição esportiva mas sim, fatos que exigem apuração, confirmação e cuidado para não mostrar atos de violência ao vivo na televisão.
Setembro 5 vai escalonando dramaticamente até a meia-noite do dia 5 de setembro de 1972, quando a polícia alemã organiza uma operação para transportar os membros da delegação israelita e os terroristas que pedem a libertação dos reféns palestinos, que é erroneamente noticiada como bem sucedida. A precipitação, a gana de obter o furo jornalístico com a desculpa de humanizar o caso, criando perfis de todos os atletas - inclusive de David Berger, nascido nos EUA e naturalizado israelense -, falando com os pais deles e criando um circo midiático, reforça a crença de que, desde a segunda metade do século 20 o jornalismo vem sendo vilipendiado pelas corporações de mídia e telecomunicações; isso fica aparente no diálogo entre Arledge e Mason, onde o primeiro diz que "pode não parecer, mas você fez um trabalho excelente hoje" ao que o segundo responde, perplexo: "mas como? foi um desastre".
Se o que importa são os números da audiência, passando por cima dos apelos de Bader, que tem uma relação de amizade com o chefe de polícia germânico e apela para o bom senso em última instância aos seus pares, que de tão ávidos por cobrir 'em cima do lance' colocam um cinegrafista e o repórter Peter Jennings (Benjamin Walker) num quarto ao lado do dos atletas de Israel, infiltram outro funcionário como atleta para poder recolher o material com eles e levar até a emissora, inclusive atrapalhando o trabalho da polícia ao transmitir ao vivo, imagens da varanda de um dos quartos onde os reféns e os terroristas estavam. Ao tratar de certos momentos da história concreta por meio do aparato do cinema, que a transforma em estória ficcional, é preciso certa sobriedade, como falou o chefão da Dreamworks, Terry Press, à época do lançamento de Munique: "o mundo é um lugar sombrio e às vezes há tanta tagarelice por aí, que o silêncio impressiona. O silêncio fala mais alto do que todos os outros".
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