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[Salas de Cinema] Vitória

Foto do escritor: Lorenna montenegroLorenna montenegro

Atualizado: há 7 dias

Direção: Andrucha Waddington, Breno Silveira (póstumo)

Roteiro: Paula Fiuza, Fábio Gusmão




Como foi narrado na matéria de abertura do Fantástico do último domingo, a temporada das Fernandas segue à toda, agora com a mãe, Fernanda Montenegro, sendo a protagonista de Vitória, onde vive uma personagem real assim como fez a filha, Fernanda Torres, que viveu Eunice Paiva, tornada símbolo da luta contra os militares. A aposentada Joana da Paz, se armou com uma câmera de vídeo e enfrentou o tráfico e a milícia, denunciando os crimes que ocorriam a alguns metros da sua janela, num morro localizado em Copacabana, no Rio de janeiro. Ela se tornou um símbolo da luta contra o crime organizado e a corrupção.


"Ela não era uma mulher sofrida, demagógica, melodramaticazinha, não", argumentou Montenegro, que, em entrevista ao Fantástico, completou dizendo que a busca por justiça a levou a querer ficar com o papel. E o fato é que funciona, que "Fernandona" domina Vitória de ponta a ponta com sua presença magnânima, ademais de alguns questionamentos feitos sobre a escalação dela, uma atriz branca, para interpretar uma mulher negra - a argumentação de um lado de que a identidade de Joana só foi revelada após o início das filmagens e de outro, que a produção conhecia a verdadeira identidade dela, já que um dos roteiristas do projeto é o jornalista que escreveu o livro que narra a história mas que, até para confundir e proteger a personagem/testemunha, se optou por uma atriz que não parecesse com a mesma.


Então, a trama do filme se trata da reconstituição, que perdura por algumas semanas - que logo viram meses - da saga de Dona Nina para conseguir mobilizar a polícia a enfrentar os criminosos que são seus vizinhos, no Morro da Misericórdia. Ela é acompanhada pelo menino Marcinho (Thawan Lucas, do Mussum: O Filmis), pela doce cabeleireira Bibiana (Linn da Quebrada) e pelo repórter policial Flávio Godoy (Alan Rocha, ótimo), este último também um personagem real, o co roteirista do filme, Fábio Gusmão. O apartamento em Copa, tão simbólico pois representava a vitória da protagonista, que conseguiu ter um teto próprio após muitos anos trabalhando como empregada doméstica, foi todo reconstruído em estúdio. E boa parte da ação se passa entre as suas quatro paredes, uma delas perfurada de bala, fato que leva Nina a tomar uma atitude: comprar uma câmera para registrar a atividade ilegal que, da janela da sua sala de estar, ela testemunha.


A história transcorre numa narrativa afeita a certas obviedades, talvez reflexo de um roteiro pouco inspirado, ainda que delicado na construção das personagens e que aparenta um conhecimento mais aprofundado sobre a personagem central, o que resulta em momentos comoventes que Fernanda Montenegro utiliza sua verve dramática para criar uma conexão imediata com o público, relatando com tristeza a infância miserável, o abuso que sofreu e ainda como passou a trabalhar como massoterapeuta. Aqueles com quem Nina guarda uma conexão mais profunda, não são tão trabalhados para se conhecer suas motivações, como é o caso de Flávio, que fica zanzando de batalhão para delegacia tentando extrair uma história "que renda a capa do jornal" mas que necessariamente não transparece ter uma preocupação grande em relação aos efeitos colaterais.


A direção de Andrucha é um pouco engessada, as vezes emperrando o ritmo ou, com a repetição dos espaços com tamanha constância (apartamento e delegacia, por exemplo), carecendo de alguma inventividade na decupagem dos planos e escolhas de disposição dos personagens em cena. Carece de explorar melhor o apartamento, aquele ninho da personagem, cheio de lembranças, memórias, mobiliado de tanta solidão. O melodrama mesmo vai se sustentando nas atuações, na química entre Montenegro e seus pares, ainda valendo destacar a pequena participação da ótima Laila Garin como a delegada Laura, além da estratificação do relacionamento de Nina com Marquinho, quando o menino passa por uma derrocada a partir do momento que se torna um aviãozinho do tráfico, o que parte o coração da mulher idosa.


Vitória oscila mas se concretiza como um produto de qualidade mediana para boa, que entrega ao público brasileiro a possibilidade de assistir a uma performance emocionante de uma das maiores atrizes vivas desse país, além de jogar luz numa história de resiliência e coragem protagonizada por uma heroina invisível, morta em 2024 mas agora revivida nas telas de cinema.



 
 
 

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