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[Festivais e Mostras] Sirāt

  • Foto do escritor: Lorenna montenegro
    Lorenna montenegro
  • 16 de out.
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 2 dias

Direção: Oliver Laxe

Roteiro: Oliver Laxe


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As trepidações de terra que entram em uníssono com as emoções convulsionantes de pessoas perdidas no mundo, em busca de salvação. E a música, o rompimento abnegado com uma civilização materialista e afundada em conflitos políticos e econômicos, pode ser essa tábua salvadora. O cineasta e ator de origem galega Oliver Laxe, nascido em Paris, sabe o que é ser e viver como um pária na Europa Ocidental - e essa questão é uma das muitas preementes em Sirāt, seu bombástico novo filme que amealhou o prêmio do júri em Cannes e é a indicação da Espanha para o Oscar 2026.


A desculpa para o enredo, frontalmente alegórico, é a busca de um pai (vivido pelo sempre ótimo Sergi López) e um filho ou filhe (Bruno Núñez Arjona) pela filha/irmã que foi embora e deixou um rastro: estaria no Marrocos, percorrendo o deserto para participar de festas rave. Junto com eles, a cadela Pipa, que logo se une a outra cadela, Lupita, parte da trupe dos estranhíssimos Jade, Tonin, Steff, Josh e Bigui.


Enjeitados pela sociedade, pessoas feias, sujas e com partes do corpo faltando (sejam dentes, pernas ou braços), o grupo performa danças e transes ao som das potentes aparelhagens sonoras que carregam em seus carros improvisados como dormitórios. Eles aceitam, meio a contragosto, levar Luís, o pai, e Esteban, a criança, junto com eles para um outro lugar, passando as montanhas, perto da fronteira marroquina com a Argélia, no deserto de Merzouga, onde uma festa acontecerá.


A deferência a um dos filmes mais existenciais e metafísicos de Antonioni, Zabriskie Point, está ali, no cataclisma no deserto que significa a mensagem de ruptura com o sociedade capitalista e o establishment. A travessia em Sirāt se torna algo literal e metafórico, com essas pessoas enfrentando provações e até a morte. Laxe, em entrevista para a crítica de cinema Flavia Guerra durante o Festival de Cannes, explicou que Sirāt, palavra presente no Alcorão e que, na tradição islâmica, representa a ponte que separa os justos dos pecadores no julgamento final - o céu, a recompensa, do inferno, a danação eterna.


“Para os mulçumanos, essa ponte que liga os mundos é uma da a muitas chaves de interpretação que o filme pode ter, é realmente ambíguo. Estou defendendo a ambiguidade e a polissemia no filme.” - Oliver Laxe

O cineasta argumenta que talvez seus personagens, mesmo estando preocupados com o que ocorre no mundo (e o filme, bastante polifônico, tem a música eletrônica, os diálogos e o rádio ou a tv noticiando a ‘terceira guerra mundial’ como parte da paisagem sonora) não sejam tão neuróticos como a maioria dos europeus ocidentais. que acham que são os mais sensatos quando em verdade são os mais psicologicamente doentes no mundo. E ele prova essa teoria trabalhando uma escala dramática que aumenta a intensidade da equalização sonora e das sequências e dos Beats dramáticos de cada uma das cenas.

E o trabalho de Kangding Ray que tem uma parte importante na construção desse clima e dessa ambiência que ditam o tom de Sirāt.


Se unir para atravessar ou acertar as contas, Sirāt provoca um choque ao colidir expectativas e aumentar as apostas sobre quais tragédias se abatem sob aquele grupo de pessoas. Longe de ser sádico ou de confrontar a percepção moralista (ou seria moralizante?) do que o cinema precisa dar conta enquanto discurso político ou moral, o filme atrita e esgota a esperança de um reencontro familiar ao passo em que, solidificando na figura de Luís, expropriado da paternidade, cai em si e percebe que a vida é um lufar do vento no deserto, que acaba num sopro. Os desígnios de um destino maligno, punitivo ou das escolhas que ditam o arbítrio livre e humano, estão entre as questões que, diferentemente do que se falou sobre semelhanças com um cinema Hanekiano - da frieza e da contenção da catarse -, jogam essa gama de pessoas de traços peculiares, comuns no cinema de Laxe, em situações impensáveis e incontroláveis, restando a elas aceitar o que recebem (seja de Deus ou do diabo).




 
 
 

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