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[Salas de Cinema] Ainda Estou Aqui

  • Foto do escritor: Lorenna montenegro
    Lorenna montenegro
  • 11 de nov. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de jan.

Direção: Walter Salles



Eunice Paiva é uma mulher de classe alta, esposa do ex-deputado Rubens Paiva, mãe de Marcelo, Nalu, Eliana, Babiu e Veroca. Discreta e elegante, ela vai levando uma vida aprazível em sua bela casa na Zona Sul carioca, tendo a fiel escudeira Zezé como aquela que faz todos os serviços domésticos, que não tem espaço na história, enquanto Eunice, Rubens e os filhos vão à praia e vivem despreocupadamente. Ou é a aparência de calmaria, de despolitização, que faz o mundo de Eunice desabar quando ela, sem a menor desconfiança, entende que o marido foi levado pelos policiais do DOPs por estar colaborando com os "subversivos" contra a ditadura. Que afinal, ele era um deputado socialista pondo em prática sua crença ideológica. Saindo de um estado de inércia para a ação, a heroína passa o resto de sua vida lutando para trazer a verdade do assassinato de Rubens pelos militares à tona. Eis o enredo do filme Ainda Estou Aqui, baseado em fatos e pessoais reais que viveram no Brasil durante o período nefasto da ditadura militar.


E quem pega o livro escrito pelo caçula de Eunice, Marcelo Rubens Paiva, encomenda a adaptação e a dirige é o vizinho, Walter Salles - falando da sua aldeia, de um lugar de conhecimento, sobre uma família burguesa atingida por uma tragédia política e humana. O cineasta (banqueiro, minerador, bilionário), irmão mais velho do documentarista João Moreira Salles, de quem é sócio na Videofilmes junto com a produtora Maria Carlota Bruno, faz de Ainda Estou Aqui um comovente drama apolítico, responsável por restaurar a “fé” do público brasileiro no cinema nacional - e a famigerada necessidade de ganhar um Oscar de melhor filme internacional para superar o complexo de vira lata.


Todo o rigor e o controle do cinema, ainda assim, sensível, de Walter Salles, encontra seu auge estilístico em Ainda Estou Aqui - ainda que, dramaturgicamente, Central do Brasil seja melhor no todo e possa ser considerado sua obra prima. O coração da narrativa de estilo naturalista, construída a partir de frames da vida idílica da família Paiva, capturados pela câmera de Adrian Teijido e organizados na montagem de Affonso Gonçalves, também fabulados por meio da câmera super 8 de Veroca (Valentina Herszage), é a mãe: Eunice Paiva. E ela é revivida por meio da atuação magnânima, ainda que minimalista, feita na economia de gestos e em olhares profundos, de Fernanda Torres. Sua presença preenche todo o espaço em tela e do lado de cá, estabelece uma conexão genuína com o público.


Ainda Estou Aqui chama à emoção quando Rubens Paiva (Selton Mello) presente o perigo e pouco depois, é levado pelos carrascos do DOPs, para nunca mais voltar. Quando Eunice é levada, fica semanas encarcerada e volta para casa, exaurida física e mentalmente, ela procura calar as feridas tomando um banho. Nessa cena Fernanda Torres abre mais uma vez sua caixa de ferramentas de atuação e mostra porque é muito mais do que uma atriz cômica - e isso longe de ser um demérito - ou uma fábrica de memes: ela é uma atriz dramática de recursos inesgotáveis. Superlativa, assim como aquela mulher, dona de casa, tornada inimiga da ditadura, lutadora, advogada da causa indígena, incansável chefe de família e buscando uma forma de justiçamento, a confissão do assassinato do marido, uma certidão de óbito, até o fim.


O filme de Walter Salles, com roteiro premiado em Veneza, assinado por Heitor Lorega e Murilo Hauser, é convencional enquanto forma mas talvez precise ser para que comunique a uma parcela maior do público brasileiro e se torne uma pauta, um evento, um produto cinematográfico que provocará, quem sabe, a retomada das atividades da Comissão da Verdade, que uma certa ex-guerrilha, quando presidente do Brasil, instaurou durante a sua gestão. Que esse seja um dos muitos impactos positivos que Ainda Estou Aqui deixe em nós e para nós enquanto nação.

 
 
 

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