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[Festivais e Mostras] Urchin

  • Foto do escritor: Lorenna montenegro
    Lorenna montenegro
  • há 5 dias
  • 3 min de leitura

Direção: Harris Dickinson

Roteiro: Harris Dickinson



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Mike é um sem teto. Ele mora na rua, dorme num banco no parque, na cobertura cheia de limo, poças de esgoto e de sujeira, isso quando não consegue vagas em albergues, moradias temporárias ou alojamentos sociais. Vive com sua mochila a tiracolo, algumas roupas bem rotas e o celular que eventualmente carrega usando a tomada de restaurantes e outros estabelecimentos comerciais. Também consegue se alimentar quando projetos sociais oferecem comida (fazem até um churrasco!), quando alguém dá um resto de alimento ou uns trocados - que ele usa para comprar drogas, claro. Quando um homem bem vestido, que tem emprego e que parece comovido com a situação de Mike oferece para lhe pagar um lanche, ele morde a mão que oferece ajuda. Agride o benfeitor, rouba seu relógio e corre, foge, dando início a sua derrocada moral e literal.


Urchin é uma estreia muito forte e comovente do ator Harris Dickinson na direção de filmes. Ele, que também escreve o roteiro, centra sua história na vida desse homem jovem, vivido magistralmente por Frank Dillane, que vive mendigando pelas ruas de Londres. Sem julgamentos e sem optar por caminhos fáceis na condução da narrativa - e nem rejeitar os caminhos mais árduos e talvez, também óbvios, tampouco - faz desse drama lisérgico e melancólico seu cartão de visitas mas sem incorrer nos maneirismos aos quais tantos diretores estreantes são afeitos. Ou ao choque pelo choque. Ou ao melodrama sem elegância.


Seu filme é sim, um conto moral. É uma narrativa sobre a falência da sociedade capitalista, sobre a falta de esperança (ou a desesperança) em um mundo onde o dinheiro e o status comandam mas Urchin também urge humanidade: pelo caminho de Mike, passam pessoas generosas como Franco (Amr Waked), que, mesmo tendo conhecimento de que ele é um ex-detento, o emprega para trabalhar na cozinha da sua hospedaria; a hippie Andrea (Megan Northam), com quem cata lixo e tem um envolvimento romântico; ou mesmo o colega de rua, o michê Nathan (o próprio Dickinson), que estende a mão e lhe ajuda mesmo quando está no fundo do poço, só buscando se entorpecer, silenciar o lado de dentro e parar de sofrer com tanta hostilidade do lado de fora.


Um transe traumático, que funciona como respiro em meia a tantas situações trágicas na vida de Mike, Michael Wiltshire, é a chapação de quetamina que ele experimenta junto com os amigos hippies de Andrea. E é o segundo momento de escape de Urchin, que vem uns bons minutos depois da noite em que Mike confraterniza com as colegas de trabalho na hospedaria. Mas mesmo sendo poucos os rompantes de felicidade, a forma como são organizados e constituídos no arco dramático denotam uma sensibilidade e senso de cidadania de Dickinson, o que provoca uma conexão imediata com o público, por mais que o filme como um todo tenha alguns problemas de ritmo e a história se arraste um pouco no ato final, que retoma um uso bem sacado de computação gráfica ou efeitos digitais para ilustrar o organismo, o interior de Mike e como, no seu delírio final, a queda em direção ao vazio, ele é acolhido na permanência - retornando ao útero. Ele, Mike, e sua triste jornada, permanecem com o público. E esse é o mérito de Dickinson e Dillane.



 
 
 

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